Após quase
15 meses a explorar, muito calmamente, este mundo que me rodeia e sem ter dado grandes motivos de queixa ou preocupação aos meus papás, achei que era chegada a hora de lhes dar mais que fazer e testar, dentro de certos limites impostos pelas “leis paternais”, a paciência, vulnerabilidade e resistência física deles.
Para tal, e como já sabem, decidi começar a
andar, feita uma maluquinha, pela casa toda, à procura de coisas engraçadas para mexer e, eventualmente, destruir.
Ora, comos os papás tem outras coisas para fazer, além de andarem a correr atrás de mim, decidiram retaliar esta ambição exploratória e fecharam todas as portas da casa, ficando eu confinada à sala e ao corredor.
“
Ai é assim?”, pensei eu para com os pequenos botões da minha camisa de manguinha curta, “
Então vou retaliar também!”
Bem dito e melhor feito… Aproveitei uma ideia que tenho cá dentro, vinda do ADN do meu papá, e decidi fazer o que ele já fazia em pequeno, a saber, caso não me façam as vontades, sento-me, ou ajoelho-me, e bato com a
testa no chão.
Mas não pensem que são favas contadas… Nada disso e antes pelo contrário. Ou seja, o bem dito e melhor feito encontrou a indiferença dos papás, como quem diz que se quero bater com a carola no chão e ficar com a testa dorida, então azar o meu…
Tal facto implicou novas medidas da minha parte e, além das cabeçadas, tenho vindo a implementar um esquema que inclui
atirar com as coisas para o chão e apontar para elas, numa de ver os papás a lixarem os costados cada vez que se agacham para apanhar seja o que for, desatar aos
berros, numa de rebentar com os tímpanos dos papás, e
acordar às 4 da manhã ou aguentar ao máximo a minha soneira, numa de ver os papás a terem que meter uns palitos nas pálpebras para se manterem acordados a aturar-me.
Mázinha…? Nem por isso, porque depois dou-lhes beijinhos e vou a correr para eles de braços abertos e com um grande sorriso, mas que dá um certo gozo vê-los a desesperar sem saberem o que se passa comigo quando começo a minha sessão de berraria às 4 da manhã, lá isso dá.
Interesseira…? Também não, porque sou bebé e os bebés são mesmo assim.
A última artimanha que tentei foi aplicar umas
palmadinhas maliciosas nos braços dos papás cada vez que não me deixam levar por diante as minhas pretensões traquinas, mas saiu o tiro pela culatra.
Os papás não se deixaram intimidar e responderam na mesma moeda, com umas palmadas nas minhas pequenas mãos ou no meu rabinho, ainda que protegido com a fralda e, por vezes, com uma protecção adicional muito mal cheirosa.
Resumindo esta minha prosa… A mamã diz que nem parece que sou eu e, coisa rara, chega a
berrar comigo para que eu fique um bocado quieta, antes de berrar com o papá a pedir-lhe ajuda.
O papá, pachola, lá vai aguentando estas artimanhas até, após muito tempo, perder a paciência.
Nesse caso, é ver-me a fugir do papá a sete pés, o que implica que ele venha atrás de mim, o que implica começar a brincadeira do “foge senão apanho-te”, o que implica que ganhei a parada e que tudo está bem.
Fica, aqui, uma chamada de atenção para os outros papás que lêem este espaço traquina:
Estas artimanhas não são da minha autoria nem, tão-pouco, detenho qualquer tipo de exclusividade sobre elas.
Quero com isto dizer que, chegadas a esta fase da nossa vida de bebé, as vossas crias, como o meu papá, carinhoisamente, nos costuma tratar, também vos vão “atacar”com arteirices similares às minhas.
Mas não se preocupem, porque, afinal de contas, somos bebés!