10 novembro 2008

Fim-de-semana em cheio – O preço da independência

Depois do almoço, que acabou tarde, e duma fila interminável para atravessar o rio Tejo, chegámos a casinha, já era noite, e começámos a arrumar as tralhas, cansados e ansiosos por nos metermos na caminha.

Os papás nem sequer jantaram, porque ainda não tinham muita fome, e eu fiquei entretida a comer uma papa ligeira, umas bolachinhas de chocolate e um sumo não sei bem de quê.

Claro que as bolachinhas de chocolate deixaram as minhas mãos e a minha cara todas acastanhadas e lá fui eu para a casa de banho para lavar as mãos e a boca, acompanhada pelo papá.

Acontece que, como já é hábito e bem sabido, gosto de fazer as coisas por mim e só pedir ajuda aos papás quando percebo que não as consigo resolver sozinha, e acontece que esta mania de me querer mostrar muito independente tem, por vezes, um preço a pagar.

Subi, como já é hábito, para a sanita, comecei a rir quando me vi ao espelho, e, quando me cheguei para a frente para abrir a água, escorreguei – talvez porque estava de meias – e caí desamparada, entre a sanita e o móvel da casa de banho, batendo, violentamente, com a queixola na pedra do tampo do lavatório.

O papá, que nem teve tempo de esboçar um reflexo, pegou logo em mim e abriu-me a boca, cheio de medo que eu tivesse mordido a língua ou que estivesse meio desdentada, enquanto berrava pela mamã e percebia que havia, algures, um bocado de sangue.

O algures era um bocadinho atrás do meu queixo, um golpe com cerca de dois centímetros que o papá, imediatamente, assentou contra a mão dele, de modo a estancar o sangue.

Escusado será dizer o pânico com que a mamã entrou na casa de banho, quase a chorar mais do que eu, e a correria que se seguiu, atrás das compressas e da água oxigenada para prestar os primeiros socorros à “coitadinha da Joana”.

Três minutinhos depois, eu já não chorava e já só dizia que tinha um dói-dói, enquanto os papás se vestiam, à pressa, para me levarem para o hospital.

O papá aproveitou que ainda vinha com a adrenalina toda dos popós pequeninos, ligou as quatro luzinhas ao mesmo tempo, e acelerou até ao hospital, onde fui logo encaminhada para uma médica, muito simpática, que me pôs um penso, fez um monte de perguntas aos papás e me reencaminhou para outra médica, num departamento chamado micro cirurgia, para coser o meu queixinho.

Ainda tivemos que esperar uns 20 minutos antes que me chamassem, porque havia gente à frente, entre os quais um homenzinho com a cabeça envolta em gaze e que também tinha que ser cosido.

Quando a médica me viu, veio uma boa notícia…

Pontos nos bebés, só se for uma ferida muito profunda. Caso contrário, e era o meu caso, aplicam uma cola especial para fechar o golpe e metem uma tirinhas protectoras, antes de aplicarem um penso.

Fiquei muito sossegadinha, enquanto a médica aplicava a cola no meu queixo e explicava aos papás que, se fossem os pontos, em vez da cola, eu teria direito a três ou quatro, bem juntinhos, e a anestesia local.

A mamã suspirou de alívio, e as mãos do papá pararam de tremer, quando a médica disse que estava tudo bem e que, além do golpe, não havia mais motivos de preocupação, já que eu estava a falar normalmente, sintoma de que queixo e articulações não tinham sofrido com a pancada, não tinha vomitado, nem desmaiado, nem qualquer coisa do género.

Já em casinha, voltámos ao local do incidente, onde os papás me deram um pequeno sermão e me explicaram que estas situações servem para eu aprender, e que mais vale pedir ajuda do que armar-me em espertalhufa que quer fazer tudo sozinha.

Depois, foi só papar mais umas bolachinhas, beber um leitinho e cair, ferrada, na caminha dos papás.

A Cria

4 comentários:

SCAS disse...

bolas! tanta adrenalina num fds só! espero que cicatrize rápido e sem dor!! beijinhos nossos aos 3

Anónimo disse...

As Joanas são assim querem fazer tudo sozinhas e depois sai asneira.
Ainda bem que tudo não passou de um grande susto.

Estrunfina

Sandrocas disse...

Bolas amiga, até a mim me doeu!
Mas ainda bem que não foi preciso coser!

Jokas e as melhoras do doidoi

Anónimo disse...

Já não há condições...para uma criança se lavar.
Ai, se a ASAE sabe....